Geniais Humoristas e a Síndrome do Pagliacci

    Robin Williams no filme Patch Adams

“Ouvi uma piada uma vez: Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto.
O médico diz: “O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo.”

O homem se desfaz em lágrimas. E diz: “Mas, doutor… Eu sou o Pagliacci.”

A história de Pagliacci fixou na cultura pop quando Alan Moore a imortalizou na sua genial obra Watchmen, publicada entre 1986 e 1987. Como muitos pensam, não foi Alan Moore que inventou a fábula de Pagliacci, que faz uma contradição trágica a condição de humorista, mas foi o italiano Ruggero Leoncavallo na sua ópera que se chama ''Pagliacci'', apresentada pela primeira vez em Milão, no ano de 1892.

Na sétima arte, vários foram os humoristas que seguiram esta condição tragicômica, seus trabalhos eram a comédia mais suas vidas eram feitas de declínios que na maioria das vezes os levavam a autodestruição. Comecemos pelo o ator inglês Max Linder, conhecido por ser o mentor de Charles Chaplin que estudou profundamente sua linguagem cômica, ele foi um dos maiores expoentes da cultura cinematográfica inglesa do começo do século XX. Max Linder cortou seus pulsos aos 42 anos levando consigo sua namorada num pacto de suicídio, acredita-se que sua ida para as trincheiras na primeira guerra mundial causou severas feridas físicas e psicológicas que jamais cicatrizaram.

    Charles Chaplin e Max Linder

O próprio Charles Chaplin era conhecido por ser um ser humano difícil e melancólico mais de uma generosidade inabalável para com seus amigos e familiares. Dá para perceber um pouco desta melancolia
na personagem Carlitos, que apesar de ser muito bem humorado, ele era um vagabundo que vivia à margem da sociedade e que não deixava as dores do mundo que o afligiam tomar conta das pessoas a sua volta. 

O genial Peter Sellers que trabalhou em diversas comédias de sucesso e que quase levou Stanley Kubrick a loucura, era conhecido por ter um problema sério de bipolaridade com sintomas de esquizofrenia, ele conseguia num mesmo filme interpretar várias personagens de personalidades e maneirismos diferentes. Como fez em Lolita e Dr. Fantástico, dirigidos pelo cineasta Stanley Kubrick e nos vários filmes da Pantera Cor de Rosa, dirigidos por Blake Edwards

Peter Sellers não saia da personagem e o mantinha logo após as cenas nos bastidores. Certa vez, sua esposa foi visitá-lo no set de Dr. Fantástico, ele almoçou com ela vestindo as roupas, maquiado e incorporado na persona que deu ao sádico que interpretava no filme, o próprio Dr. Fantástico. Ele a dizia que não conhecia nenhum miserável Peter Sellers, mesmo quando ela disse que tinha uma notícia não muito agradável para dize-lo sobre a sua própria mãe, isso a abalou profundamente. Em uma entrevista Peter Sellers com seu humor ácido e irônico, disse: Eu odeio tudo o que faço, não sei como vocês ainda gostam!''.

    Peter Sellers e Suas Três Personagens no Filme Dr. Fantástico

O caso mais recente foi a morte trágica de um dos maiores comediantes norte-americanos, o genial Robin Williams. O ator foi uma grande revelação nos anos 1970 e fez várias obras-primas entre 1980 e 1990. Robin Williams vinha de uma série de más escolhas e neste começo de século seu talento não se destacou nos vários filmes que fez. O ator vinha enfrentando uma severa depressão potencializada pelo o uso abusivo de álcool e cocaína, não há nada claro ainda, mas há uma forte suspeita de que o ator tenha cometido suicídio.   

Todos estes humoristas que citei são artistas completos, que interpretavam personagens dramáticos com a mesma intensidade e fúria que interpretavam suas personagens cômicos. Isso nos leva a pensar que os verdadeiros e geniais humoristas, são também pessoas complexas que se antagonizam em suas psicoses subliminares. Para fazer o humor verdadeiro as características mais obscuras do ser humano devem ser sentidas, desta forma o humor é real, transgressor e revolucionário. Assim é a arte, é a dedicação e os sacrifícios. Assim se comportam os gênios, que sempre serão uma incógnita em nossas modestas mentes de simples admiradores de suas magníficas vidas e obras.


Sobre o autor:

Leandro Godoy é o criador, editor chefe e escritor do site Cinema e Fúria. Gosto dos mais malucos exploitations, aos cultuados filmes de arte até ao mainstream do cinemão pipoca. Meus outros interesses são: odontologia, literatura e música.

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